José Luiz de Paiva Bello
Convém esclarecer que as teorias de Piaget têm comprovação em bases científicas. Ou seja, ele não somente descreveu o processo de desenvolvimento da inteligência mas, experimentalmente, comprovou suas teses.
Resumir a teoria de Jean Piaget não é uma tarefa fácil, pois sua obra tem mais páginas que a Enciclopédia Britânica. Desde que se interessou por desvendar o desenvolvimento da inteligência humana, Piaget trabalhou compulsivamente em seu objetivo, até às vésperas de sua morte, em 1980, aos oitenta e quatro anos, deixando escrito aproximadamente setenta livros e mais de quatrocentos artigos. Repassamos aqui algumas idéias
centrais de sua teoria, com a colaboração do “Glossário de Termos”.
1 - A inteligência para Piaget é o
mecanismo de adaptação do organismo a uma situação nova e, como tal, implica a
construção contínua de novas estruturas. Esta adaptação refere-se ao mundo
exterior, como toda adaptação biológica. Desta forma, os indivíduos se
desenvolvem intelectualmente a partir de exercícios e estímulos oferecidos pelo
meio que os cercam. O que vale também dizer que a inteligência humana pode ser
exercitada, buscando um aperfeiçoamento de potencialidades, que evolui "desde
o nível mais primitivo da existência, caracterizado por trocas bioquímicas até
o nível das trocas simbólicas" (RAMOZZI-CHIAROTTINO apud CHIABAI,
1990, p. 3).
2 - Para Piaget o comportamento dos seres
vivos não é inato, nem resultado de condicionamentos. Para ele o comportamento
é construído numa interação entre o meio e o indivíduo. Esta teoria
epistemológica (epistemo =
conhecimento; e logia = estudo) é caracterizada como
interacionista. A inteligência do indivíduo, como adaptação a situações novas,
portanto, está relacionada com a complexidade desta interação do indivíduo com
o meio. Em outras palavras, quanto mais complexa for esta interação, mais “inteligente”
será o indivíduo. As teorias piagetianas abrem campo de estudo não somente para
a psicologia do desenvolvimento, mas também para a sociologia e para a
antropologia, além de permitir que os pedagogos tracem uma metodologia baseada
em suas descobertas.
3 - “Não existe estrutura sem gênese,
nem gênese sem estrutura” (Piaget). Ou seja, a estrutura de maturação
do indivíduo sofre um processo genético e a gênese depende de uma estrutura de
maturação. Sua teoria nos mostra que o indivíduo só recebe um determinado
conhecimento se estiver preparado para recebê-lo. Ou seja, se puder agir sobre
o objeto de conhecimento para inseri-lo num sistema de relações. Não existe um
novo conhecimento sem que o organismo tenha já um conhecimento anterior para
poder assimilá-lo e transformá-lo. O que implica os dois polos da atividade
inteligente: assimilação e acomodação. É assimilação na medida em que incorpora
a seus quadros todo o dado da experiência ou estruturação por incorporação da
realidade exterior a formas devidas à atividade do sujeito (Piaget, 1982). É
acomodação na medida em que a estrutura se modifica em função do meio, de suas
variações. A adaptação intelectual constitui-se então em um "equilíbrio
progressivo entre um mecanismo assimilador e uma acomodação complementar"
(Piaget, 1982). Piaget situa, segundo Dolle, o problema epistemológico, o do
conhecimento, ao nível de uma interação entre o sujeito e o objeto. E "essa
dialética resolve todos os conflitos nascidos das teorias, associacionistas,
empiristas, genéticas sem estrutura, estruturalistas sem gênese, etc. ... e
permite seguir fases sucessivas da construção progressiva do conhecimento"
(1974, p. 52).
4 - O desenvolvimento do indivíduo
inicia-se no período intra-uterino e vai até aos 15 ou 16 anos. Piaget diz que
a embriologia humana evolui também após o nascimento, criando estruturas cada
vez mais complexas. A construção da inteligência dá-se portanto em etapas
sucessivas, com complexidades crescentes, encadeadas umas às outras. A isto
Piaget chamou de “construtivismo sequencial”.
A seguir os períodos em que se dá este
desenvolvimento motor, verbal e mental.
A. Período
Sensório-Motor - do
nascimento aos 2 anos, aproximadamente.
A ausência da função semiótica é a
principal característica deste período. A inteligência trabalha através das
percepções (simbólico) e das ações (motor) através dos deslocamentos do próprio
corpo. É uma inteligência iminentemente prática. Sua linguagem vai da ecolalia
(repetição de sílabas) à palavra-frase ("água" para dizer que quer
beber água) já que não representa mentalmente o objeto e as ações. Sua conduta
social, neste período, é de isolamento e indiferenciação (o mundo é ele).
B. Período Simbólico - dos 2 anos aos 4 anos,
aproximadamente.
Neste período surge a função semiótica que
permite o surgimento da linguagem, do desenho, da imitação, da dramatização,
etc.. Podendo criar imagens mentais na ausência do objeto ou da ação é o
período da fantasia, do faz de conta, do jogo simbólico. Com a capacidade de
formar imagens mentais pode transformar o objeto numa satisfação de seu prazer
(uma caixa de fósforo em carrinho, por exemplo). É também o período em que o
indivíduo “dá alma” (animismo) aos objetos ("o carro do papai
foi 'dormir' na garagem"). A linguagem
está a nível de monólogo coletivo, ou seja, todos falam ao mesmo tempo sem que respondam
as argumentações dos outros. Duas crianças “conversando” dizem frases que não
têm relação com a frase que o outro está dizendo. Sua socialização é vivida de
forma isolada, mas dentro do coletivo. Não há liderança e os pares são
constantemente trocados.
Existem outras características do
pensamento simbólico que não estão sendo mencionadas aqui, uma vez que a
proposta é de sintetizar as idéias de Jean Piaget, como por exemplo o
nominalismo (dar nomes às coisas das quais não sabe o nome ainda),
superdeterminação (“teimosia”), egocentrismo (tudo é “meu”), etc.
C. Período
Intuitivo - dos 4 anos aos 7
anos, aproximadamente.
Neste período já existe um desejo de
explicação dos fenômenos. É a “idade dos porquês”, pois o
indíviduo pergunta o tempo todo. Distingue a fantasia do real, podendo
dramatizar a fantasia sem que acredite nela. Seu pensamento continua centrado
no seu próprio ponto de vista. Já é capaz de organizar coleções e conjuntos sem
no entanto incluir conjuntos menores em conjuntos maiores (rosas no conjunto de
flores, por exemplo). Quanto à linguagem não mantém uma conversação longa mas
já é capaz de adaptar sua resposta às palavras do companheiro.
Os Períodos Simbólico e Intuitivo são
também comumente apresentados como Período Pré-Operatório.
D. Período
Operatório Concreto - dos 7
anos aos 11 anos, aproximadamente.
É o período em que o indivíduo consolida as
conservações de número, substância, volume e peso. Já é capaz de ordenar
elementos por seu tamanho (grandeza), incluindo conjuntos, organizando então o
mundo de forma lógica ou operatória. Sua organização social é a de bando,
podendo participar de grupos maiores, chefiando e admitindo a chefia. Já podem
compreender regras, sendo fiéis a ela, e estabelecer compromissos. A
conversação torna-se possível (já é uma linguagem socializada), sem que no
entanto possam discutrir diferentes pontos de vista para que cheguem a uma
conclusão comum.
E. Período
Operatório Abstrato - dos 11
anos em diante.
É o ápice do desenvolvimento da
inteligência e corresponde ao nível de pensamento hipotético-dedutivo ou
lógico-matemático. É quando o indivíduo está apto para calcular uma
probabilidade, libertando-se do concreto em proveito de interesses orientados
para o futuro. É, finalmente, a “abertura para todos os possíveis”.
A partir desta estrutura de pensamento é possível a dialética, que permite que
a linguagem se dê a nível de discussão para se chegar a uma conclusão. Sua
organização grupal pode estabelecer relações de cooperação e reciprocidade.
5 - A importância de se definir os períodos
de desenvolvimento da inteligência reside no fato de que, em cada um, o
indivíduo adquire novos conhecimentos ou estratégias de sobrevivência, de
compreensão e interpretação da realidade. A compreensão deste processo é
fundamental para que os professores possam também compreender com quem estão
trabalhando.
A obra de Jean Piaget não oferece aos
educadores uma didática específica sobre como desenvolver a inteligência do
aluno ou da criança. Piaget nos mostra que cada fase de desenvolvimento
apresenta características e possibilidades de crescimento da maturação ou de
aquisições. O conhecimento destas possibilidades faz com que os professores
possam oferecer estímulos adequados a um maior desenvolvimento do indivíduo.
“Aceitar o ponto de vista de Piaget,
portanto, provocará turbulenta revolução no processo escolar (o professor
transforma-se numa espécia de ‘técnico
do time de futebol’, perdendo seu ar de ator no palco). (...) Quem quiser
segui-lo tem de modificar, fundamentalmente, comportamentos consagrados,
milenarmente (aliás, é assim que age a ciência e a pedagogia começa a tornar-se
uma arte apoiada, estritamente, nas ciências biológicas, psicológicas e
sociológicas). Onde houver um professor ‘ensinando’... aí não está havendo uma escola
piagetiana!” (Lima, 1980, p. 131).
O lema “o professor não ensina, ajuda o
aluno a aprender”, do Método Psicogenético, criado por Lauro de Oliveira
Lima, tem suas bases nestas teorias epistemológicas de Jean Piaget. Existem
outras escolas, espalhadas pelo Brasil, que também procuram criar metodologias
específicas embasadas nas teorias de Piaget. Estas iniciativas passam tanto
pelo campo do ensino particular como pelo público. Alguns governos municipais,
inclusive, já tentam adotá-las como preceito político-legal.
Todavia, ainda se desconhece as teorias de
Piaget no Brasil. Pode-se afirmar que ainda é limitado o número daqueles que
buscam conhecer melhor a Epistemologia Genética e tentam aplicá-la na sua vida
profissional, na sua prática pedagógica. Nem mesmo as Faculdades de Educação,
de uma forma geral, preocupam-se em aprofundar estudo nestas teorias. Quando
muito oferecem os períodos de desenvolvimento, sem permitir um maior
entendimento por parte dos alunos.
Sou aluna do 4º Período de Pedagogia e estou seguindo o Blog. ;)
ResponderExcluirBoa tarde, Fátima Amorim visitei seu blog E amei!!!
ResponderExcluirSou sua aluna do 4º período de Pedagogia-FIP
Olá Fátima Amorim, sou sua aluna do 4º período de Pedagogia-FIP
ResponderExcluirUm abraço.
Boa tarde, Fátima Amorim visitei seu blog E amei!!!
ResponderExcluirSou sua aluna do 4º período de Pedagogia-FIP
as contribuições de Jean Piaget a educação são formidáveis...buscar na ciência a explicação para o desenvolvimento motor ,verbal e mental da criança são atalhos deixados por Piaget importantíssimos ..para que nós pedagogos tentássemos entender este ser tão complexo que é o ser humano....
ResponderExcluirsou Maria Eulalia do quarto periodo de pedagogia e estou seguindo seu blog
ResponderExcluirSou aluna do 4º periodo de pedagogia, e estou seguindo o seu blog!
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